Los Angeles
[correndo atrás de um carro que sai da Sede-Mãe da SRF em Los Angeles]
[o carro pára e o motorista abre a janela]
[o carro pára e o motorista abre a janela]
- Você por acaso vai para o Centro?
- Hummm. Posso ir.- Não te atrapalha o caminho?
- Não, moro no deserto a duas horas de qualquer lugar, inclusive do centro.
- Ok. Agradeço muito a carona.
- Sou músico e tenho um ensaio mais a tarde, mas acho que dá tempo.
- Também sou ou fui músico: toco violão/guitarra e já toquei piano. Você, o que toca?
- Toquei piano e hoje toco harmônio - está aí atrás.
- O que você fazia na Sede-Mãe da Self Realization Felowship?
- Sou de uma tradição diferente de yoga, mas digamos que gosto de ler os livros de Yogananda na biblioteca de Yogananda.
- :-)
- De onde você é? Francês?
- Não, brasileiro.
- Estive no Rio de Janeiro uma vez, entrei de barco pela Baía de Guanabara.
- A mistura de Los Angeles me faz sentir em casa.
- Realmente se querias mistura vieste ao lugar certo. É uma pena que a mistura no Brasil se dê com violência entre as favelas e as zonas ricas.
- Uma mistura que não quer misturar mas que já misturou...
- O problema da pobreza.
- Na verdade, utilizamos tão pouco a capacidade infinita da natureza, que nem sei se podemos falar em pobreza - talvez só pobreza de espírito, que devasta o que ignora.
- Em que você trabalha?
- Trabalho numa ONG de Educação Ecológica, mas também estudo Literatura e Sânscrito.
- Então és um acadêmico [scholar]?
- Quanto mais estudo, apenas aprendo o tamanho da minha ignorância. Eu seria mais um devoto acadêmico... devotado a saber cada vez mais que nada sabe...
- Você se interessa pelos mantras dos chacras? Tenho uma música aqui sobre isso...
[ouvimos uma canção evocando os inúmeros aspectos do símbolo de cada chacra]
- Bela canção. Não poderia te dizer muito sobre os símbolos que mal conheço, mas poderia te falar alguma coisa sobre os mantras-sementes.
- Sou muito interessado na história das línguas, na origem dos sons com que nos comunicamos.
- Então você conhece algo sobre as grandes raízes das linguagens... Vamos dizer que temos 3 grandes grupos: 1. o de cima-para-baixo, com o Chinês Antigo, germinando em Coreano, Japonês, Chinês Moderno, etc; 2. o da direita-para-esquerda, com o Hebraico Antigo, frutificando em Árabe, Aramaico, Hebraico, etc... e 3. o da esquerda-para-direita (o que pensamos ser o "normal"), com o suposto idioma Indo-Europeu, florescendo em Grego, Latim e Sânscrito - que foi a língua que mais se ateve a suas raízes, por razões especiais...
- Por causa dos rituais, como no Latim?
- Não só...
- Mas o Latim se degenerou em línguas, apesar da igreja.
- E aí nasceram Francês, Espanhol, Italiano, Português...
- Qual a razão então?
- Eu teria de contar uma história.... É breve.
[falamos sobre os gramáticos sânscritos, cujo saber Pânini tentou resumir numa grande obra, mas não conseguiu por conta própria, ao que orou aos deuses, obtendo a resposta de Shiva em 14 cajadadas, que são os 14 Shiva Sutras, 14 versos organizando todos os sons do Sânscrito, 14 sementes de onde germina toda a gramática da língua dos deuses]
- Bela História.
- Mais bela ainda é a razão de o Sânscrito ter preservado sua Fonética. Não só por começar por um tratado de fonética tão denso que dele surge toda a sua gramática. Nem só pelos rituais, em que o canto perfeito era necessário. Mas também pelo seu alfabeto devanagari, em que cada signo é também uma instrução de pronúncia.
- Sério?
- Posso te mostrar...
[desenho o primeiro verso para ele e desenvolvo o caminho sonoro do AUM]
- Olha, posso te convidar para um satsanga? Como disse, tocarei hoje num grupo de Siddha-Yoga, pois teremos kirtan & meditação. Você pode participar como músico ou consultor de pronúncia sânscrita e, depois, eu te deixo onde quiseres no centro de Los Angeles.
- Como eu poderia recusar?
[assim, por um dia, fui cantor de coral com direito a microfone, diretora e tudo o mais, além de comer prasada após dois dias de pizza e um de jejum e, de quebra, ainda conhecer uma funcionária da embaixada do Brasil em LA, organizadora de um projeto de ecologia entre Brasil e Estados Unidos]
Bênçãos demais para descrever aqui...
Chuva de flores que minhas mãos de palavras não catam de todo...
Deixe apenas dizer que apresentamos dois mantras, sendo o segundo:
OM NAMAH SHIVÁYA
[quando ele me deixava no Hotel no Centro em que estou hospedado]
- Richard, nós discordamos de uma coisa apenas, dentre tudo o que falamos...
- ?
- Você quer saber o que é?
- ?
- Você disse que era de uma tradição diferente de yoga.
- :-)
4 comentários:
Taim cantoreiro...
já que insistes em ler minhas escritas por aqui, direi o que me vêm à cabeça quando leio seus escritos (associação livre, como já diria o velho Freud):
Primeiramente acho incrível como gravas seus diálogos - tem certeza que não andas com um gravador portátil??
Segundamente, achei bem bonito esse seu encontro com o morador do deserto... e fiquei curiosa para saber como você entrou lá e virou diretor de coral!!?? poderias contar com mais detalhes essa experiência.
Terceiramente, te amo!
Beijos
Hare Krsna
Atitude certa
Momento certo
Conhecimento certo
Hare Krsna
Filho estamos juntos, floca e catita lendo voce neste momento
Incrivel como consegues lembrar com riqueza de detalhes todas as conversas. Eu me limito a prestar atenção para depois reproduzir os papos. Mas o que realmente me impressiona é a sua cultura. Lendo voce, parece que estamos viajando juntos, e como naõ estariamos juntos de vc?
Nós dois ( flocão e floca)
Te amamos muito.
こんばんは
Belo depoimento, maravilhoso encontro! A distância não existe para aqueles que buscam a sabedoria. Estes se atraem, misturam-se e crescem.
Obrigado por compartilhar esta genuína vivência.
Ps.: Depois quero lições sobre como gravar diálogos sem o uso de um gravador portátil ;)))
abraços!
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