2009-01-04

A ÁRVORE
traduzindo a pintura de Wega Nery, 1973,
exposta no MASP, São Paulo (imagem não disponível)


O menino é o nariz do broto em busca
de ar, e a menina é a flor só em botão
ainda por olir e respirar.
A árvore é criança a desvendar.

O adolescente é o tronco fértil' em busca
de sembrar, e a moça é o fruto e o grão
que absorve e adensa a chuva e o mar.
A árvore é a juventude a amar.

O homem é dos galhos o equilíbrio,
e o vento é a mulher a baloiçar:
a árvore é o sistêmico e o ludíbrio.

O sábio é nos galhos o abaixar-se
dos frutos que uma sábia mãe gerou.
A árvore é o que faço, logo sou.

Carlos Pittella
MASP, São Paulo, 04 de Janeiro de 2009.

2007-10-18

Como fazer um pôster


semente

No dia 22 de junho, não sei ou não me lembro por quê, deixei a seguinte mensagem-semente numa comunidade-orkut sobre Ecovilas, a qual se encontrava num interessante debate sobre Sistemas Educacionais:

"Sonho com um curriculum escolar que, em vez de jogar fora tudo o que o MEC aprova, realize a união entre as disciplinas tradicionais com o ponto de vista ecológico - a Ecologia servindo como solução para os dois grandes motivos de inércia da escola entre quatro paredes: 1. a falta de uma ponte para que as distintas áreas dialoguem entre si (e tudo pode ser visto pelo olhar ecológico); 2. a cobrança de prática, pés na terra, realização, como lastro para o que de fato aprendemos, em vez de decorar para o vestibular e esquecer no dia seguinte o que jamais entrou no coração. Então, poderíamos ter: Química com Alimentação Orgânica, Biologia com Etnobotânica, Física com Bioarquitetura, Matemática com Construção de Instrumentos Musicais, História com a História das Florestas... E continuarei sonhando com esta União da Árvore: www.uniaodaarvore.org.br"



muda

De repente, uma sucessão vertiginosa de fatos, como brotos e raízes de uma muda:

- Uma pessoa que leu a mensagem na comunidade ficou interessada no trabalho da União da Árvore e nos enviou um email;

- Respondemos, iniciando um diálogo sobre os 123 projetos;

- Ela se interessou pela Oficina de Ecopoesia;

- Surgiu a oportunidade de apresentar a Oficina no VIII ECEL: Encontro de Ciência Empírica em Letras;

- Enviamos a proposta de apresentação oral, mas foi negada;

- Talvez com pena de nossa loucura em apresentar Ecopoesia cientificamente, a organização propôs "que tal um pôster?";

- Como já tínhamos decidido voar, com ou sem pena, aceitamos;

- Mas como fazer um cartaz? Só sabíamos o tradicional de réguas, cola bastão e cartolina; seria engraçado, se não fosse trágico...

- A mesma pessoa que nos tinha contactado (devido à semente deixada nas Ecovilas), provavelmente um anjo disfarçado, se prontificou a ajudar;

- A organização do evento enviou as especificações acadêmicas: academicamente, seria preciso "introdução, objetivo, justificativa, metodologia, revisão de literatura, bibliografia, etc"

- Como não bater de frente com a burocracia, sem se vender a ela?

- Pegamos uma apresentação de Power Point usada noutro congresso e respondemos passo a passo, só que ecopoeticamente...

- O anjo disfarçado, de outro estado brasileiro, fez o milagre do pôster;

- Mas como imprimir algo de 2m X 1,5m para o dia seguinte, de preferência ecologicamente e sem gastar muito?

- Através do serviço de confecção de pôsters de um hospital, conseguimos quase 100 reais de desconto e um pôster gigante bastante ecológico para o dia seguinte

- E, além do desconto, quem nos conseguiu o contato pagou o pôster como doação.

- Logo, poemas doados por alunos num design doado numa impressão doada... Árvore generosa a EcoPoesia...



árvore

A apresentação do pôster será entre 11h20 e 11h50 da manhã, na Faculdade de Letras da UFRJ, Ilha do Fundão. Vejo isso na véspera, depois da meia-noite, quando consigo terminar os 123 assuntos do dia e pensar no amanhã: estou no Flamengo e imaginava que o Congresso seria na Urca; ledo engano da vontade ou da preguiça... Terei de acordar bem cedo.

Deitando às 2h, tento acordar 5h30, mas o corpo só responde às 7h. Medito. Arrumos as coisas. Decisões repentinas a tomar. Só posso sair de casa às 10h15m. Ainda bem que
meditei antes da enxurrada de portas que o dia já escancara.

Como estará o trânsito? Mais um milagre: trânsito divino e maravilhoso como o dia, no Rio de Janeiro, permitindo que em menos de meia hora eu chegue ao Fundão: tenho tempo até de fechar os olhos e respirar antes de sair do carro: "Se por um instante sequer Eu não realizasse as minhas ações, sem pausa, a humanidade inteiramente imitaria o Meu modo" -- ocorrem-me os versos da Bhagavad Gita (III: 23), a Canção do Divino Mestre, Krishna instruindo Árjuna sobre a ação correta. É o que me vêm ao pensamento, antes de abrir a porta do carro, em busca de estar à altura desta oportunidade: apresentar a Oficina de Ecopoesia a um tempo dinamizando e respeitando o meio acadêmico; falar com a pouca melodia de minha voz, mas com a harmonia presente da confiança doada por tantos semeadores...

Este é o andar do Encontro. Entro com o pôster que, mesmo enrolado, ainda tem 1,5m de altura enrolada. Há um largo estande de livroe com seu livreiro. Bato o olho e fixo o primeiro livro que vejo: "Ecolingüística". Capa verde e bela. Presságio? Coincidência? Acreditem se quiser, o que busco na Literatura já foi feito profundamente na Lingüística, sem que eu sequer cogitasse essa possibilidade. upreendo-me com minha (im)própria ignorância Tenho de comprar o livro: 58 reais e alguns centavos. Proponho brincando:
- 30% de desconto: 10 por ser professor + 10 por ser estudante + 10 por ser à vista?
O livreiro sorri e faz 6 reais de desconto. Mas só tenho 52 trocados. Ele aceita. O senhor aceita cartão? Mas ele diz que tem de receber em dinheiro por estes livros.

O livro tinha sido a primeira coisa que vi à direita. Quando pago e olho à esquerda, encontro um amigo que me encontra e que não encontrava há 1 ano e que não planejava encontrar, mas que sempre encontrei alegremente... Um jesuíta afro-brasileiro, cientista da literatura e pesquisador rigoroso, tão doce quanto inteligente.
- Doutor colega de metáforas? (digo algo assim)
- Você está rouco?
- Acho que não, apenas falo demais mesmo.
-:-)

Súbito vem uma simpática organizadora do congresso guiar-me à mesa de inscrições:
- Você já se inscreveu? Vai se inscrever?
- Acho que deveria, certo? Afinal, apresentarei este pôster.
Assino meu nome, mas, na iminênca de receber o material do congresso, percebo que só me restam 35 reais (a taxa de inscrição é 40), pois tive de comprar a Ecolingüística. O banco mais próximo não é próximo. Digo que prefiro deixar a pasta do congresso com eles e, quando conseguir o total, pago e só então recebo: assim seria mais justo.

Desço a tomar um suco com o jesuíta amigo, que escolheu não se inscrever formalmente e que agora escolhe cupuaçu. Decidi simplesmente suco de laranja. Saúde. Ele me diz que veio assistir à palestra de uma professora alemã e que também não teve dinheiro para a incrição; por coincidência, também tinha comprado um livro -- só que pagou no cartão de crédito... algo que eu poderia fazer, se quisesse ficar com dinheiro em espécie: bastaria ir com o livreiro à loja central e fazer a troca de papel-moeda por redeshop. Que horas são? Temos de voltar rápido ao lugar do Encontro. Hora de pendurar os pôsters:
- Você não recebeu as especificações?
- Sim, recebi.
- Mas o seu passou muito os limites...
- Dois por um e meio.
- Esse era o espaço total de exposição - o do cartaz tinha de ser menor.
- Não sabia, isso não estava nada claro.
- Não há problema: podemos pendurar na parede.
- Ótimo, assim chama mais à atenção :-)

O pôster era quase o dobro do tamanho dos demais e, com algumas ilustrações de posturas de yoga, quase apagava o interesse pelos arredores. Teria sido uma covardia se não tivesse sido o destino. O querido pesquisador-jesuíta e eu conversamos com outra expositora, que tratava de relações étnicas em literatura, a partir do filme "A Cor Púrpura". Ela tem a pasta do congresso, que peço para ver, constatando que todo o material lá dentro está disponível na Internet -- o que me dá um grande alívio por não ter gastado mais 40 reais, feitos de papel, com papéis que acabariam na reciclagem.

Já é hora de começar? Convido meu amigo a ser a primeira vítima desta espécie de "Feira de Ciências" de gente grande, não tão grande, no corredor da Faculdade de Letras da UFRJ; os demais expositores se juntam e, no movimento, mais 5 vem na correnteza. Já são umas 10 vontades curiosas com a "Oficina de Ecopoesia". Penso na força de todos os anjos semeadores. E digo................

Já estou terminando o segundo ciclo da apresentação com uns e começando o teceiro com outros quando a professora alemã (à qual meu amigo viera assistir e que faria uma comunicação em seguida) se empolga com o pôster e decide chamar seus colegas, buscando-os pessoalmente de dentro da sala principal de apresentações. Volta com sua orientanda, entre outros, que me fazem sorrir ao entrar instantânea e completamente no sespírito da Oficina, apontando, quais crianças satisfeitas, os nomes ecopoéticos na bibliografia: CAPRA! MATURANA! BACHELARD!

É hora da apresentação da professora alemã, a que agora também quero assistir: sento-me ao lado de sua orientanda. Deixei o cartaz entregue aos ventos do corredor. Assisto. Sugere-nos uma nova história da literatura, através de uma nova didática, movida pela alegria e não pela obrigação. Nicolau Copérnico - exemplifica -- decidiu estudar o sol porque o amava, não porque foi obrigado.

Só posso sorrir.

Distribuem-se números. Pergunto à orientanda da professora alemã: será um sorteio? Ela não sabe, cogitando, enquanto segura dois números nas mãos. Se for um sorteio -- digo eu -- pode escolher o teu número preferido dentre esses dois. Ela faz que não se importa muito e me dá o outro.

Por gentileza, acredite: o primeiro número chamado é o meu - para o desespero da orientanda que mo dera agorinha! Dia de bom karma? Belo livro, da série REDES, sempre lidando com uma coisa & outra, sendo este & a justa ponte, o meio, a rede... A União da Árvore não se apresentaria diferentemente.

Saio da sala, findo o sorteio, e vejo o anúncio de outro livro da série REDES: "Pontes & Transgressões". "Esse deve ser interessante!" -- penso exclamativamente, encontrando o livreiro bem à minha frente. Aproveito para pensar em voz alta:
- O senhor teria o livro "Pontes & Transgressões"?
- Tenho sim, está lá na loja central, e vou te dar de cortesia.
- Como?
- Você queria ter pagado com o cartão, e eu não pude te oferecer isso. Então, gostaria de te dar esse de presente. Só não posso pegar agora, pois está na loja e não nesse estande.
- :-)

Também sem palavras, meu amigo jesuíta me olha: concluímos que a orientanda da professora alemã poderá pegar o livro e me entregar depois. Busco-a num restaurante do Campus e lhe falo: ela sorri muitíssimo feliz, pois digo que assim ela poderá ficar com este novo livro o tempo que quiser, como se ela mesma o tivera ganhado, repassando-me depois.

Já de saída, pôster enrolado como lança, encontro por acaso (será?) minha orientadora de 91 anos, Professora Cleonice Berardinelli e dama da Língua Portuguesa. Ela leciona às quintas na UFRJ e hoje é quinta. Vendo-me com o cartaz em riste, pergunta:
- Que fazes aqui com isto?
Meu amigo ao lado de mim sustenta a metáfora:
- Vim servir de Dom Quixote, daí esta lança e este é meu amigo Sancho Pança.
- :-)

Despedindo-me de Cleonice, lembro-me de que não fotografei nada para enviar aos anjos que não puderam estar de asas presentes... Compro outro suco de laranja e fotografo, enfim, o pôster enrolado mesmo, ao lado do copo 500mL, este servindo de parâmetro, para que todos possam ver como uma sementinha faz um pôster deste porte...



Pôster vivo, estendendo seus galhos-postagens como uma Idéia de Árvore feliz.

2007-10-09

3 Reinos do Haikai

Mais Poemas Comunitários com Lucas, Alan & Matheus do Solar Meninos de Luz (em 2005): cada um fazia um dos 3 versos de um Haikai, inspirando-se na postura de yoga que o quarto integrante praticava, relacionada a um dos 3 Reinos da Natureza: 1.sasangásana -- postura do Coelho (ou do humano cotidiano?), 2.padmásana -- postura da Flor de Lótus & 3.vajrásana -- postura do Diamante.

1. REINO ANIMAL

Coelho veloz
andando por aí...
fala tanto até perder a voz.


2. REINO VEGETAL

A flor cruzada de um lado pro outro
abre caminhos
nas suas mãos apontadas pro céu


3. REINO MINERAL

O diamante brilhando
o povo comprando
admirados olhamos aquilo que não tem preço

2007-10-05

4 Haikas Elementares

Poemas Comunitários com Lucas Melo, Alan Gomes & Matheus Silva, todos da 5a série do Solar Meninos de Luz (em 2005): cada um fazia um dos 3 versos de um Haikai, inspirando-se na postura de yoga que o quarto integrante praticava, relacionada a um dos 4 elementos: 1.yogamudrásana, 2.simhásana, 3.matsyásana & 4.vrikshásana.

1. AR

O vento corre
silenciosamente
assopra o segredo da vida



2. FOGO

O Leão tem cabelos de fogo...
Rugindo até se queimar...
Para manter o seu trono.


3. ÁGUA

O mar sereno...
A onda bate no chão
E molha o nosso amor.


4. TERRA

A raiz da terra não se mexe
suas mãos são árvores crescendo pro céu
e a cabeça é a fruta do mundo!

2007-10-03

Aula Selvagem

Poema Coletivo com a 5a série do Solar Meninos de Luz (2005),
em que cada aluno assumiu o papel de um animal,
sendo o professor a Vaca:


Alguém disse MUUU na sala de aula
E os Bichos riram da Professora Leiteira.

E a Borboleta disse falem alguma coisa!...

E o Gato disse miau miau...

O Leão rugiu dizendo
ou falam agora
ou serão comidos para sempre.


E a Coruja não queria mais saber da metáfora.

E o Leão voltou para o seu trono,
muito satisfeito.

E o Gato disse mais uma vez
miau, volte aqui, miau...

O Tigre, que é um gato muito grande,
como era de se esperar,
teve muita preguiça.

A Pomba disse um Oi?! que era uma reclamação.

Afinal, a floresta inteira se perguntava
o que acontecerá no final?

De repente, a Águia gritou seu IÁUP!!!
E ficamos sem saber se isso era uma resposta.

2007-08-25

Rei

Atlanta, 22 de Agosto de 2007



[chegando de Los Angeles, rumo à conexão que me levará voando ao Rio de Janeiro, pego o metrô deste grande aeroporto e subo a escada rolante até o setor E - acima de minha cabeça, belos azulejos coloridos aparecem, com frases soltas em letra de mão, nas quais não foco minha atenção, pois estou concentrado no todo de beleza que a inesperada obra transmite; não sei por quê, acho que penso em Martin Luther King]

[a escada rolante chega ao fim, viro à direita e... um aparelho impressor de recibos e cartões, ultra-moderno, ganha minha atenção; penso que pode ser muito útil à ONG União da Árvore] e peço informações:

- É um aparelho maravilhoso, que faz isso e mais isso e aquilo também e etc etc etc...
- Quanto custa?
- Nas lojas normais, 250 dólares, mas aqui no aeroporto fizemos um preço especial e está por apenas 195 dólares.
- Achei que fosse mais barato. Muito agradecido pelas informações.

[sigo adiante, pois tenho tempo de sobra para a conexão, mas tempo de falta para pechinchar por um aparelho que já me parece supérfluo, ainda mais levando em conta agora que já estorei o limite de compras permitido pela alfândega]

[páro de repente]

[emoção]

[do lado da venda ultramoderna, um memorial, no meio do aeroporto]

[memorial de Martin Luther King Jr., com roupas, óculos, fotos, livros do grande líder ocidental do movimento de não violência, o Gandhi negro dos Estados Unidos, cujos sonhos fizeram jus ao seu sobrenome King = Rei, rei de força, liderança e humildade]

- "Eu tive um sonho... de que meus quatro filhos um dia viverão numa nação onde não serão julgados pela cor de sua pele, mas sim pelo seu caráter".

[é pensar nisso e ver, numa das redomas da exposição, o livro de cabeceira de Rei]

- "Obras Completas de Mahatma Gandhi".

[quero fotografar, mas, diante da neurose norte-americana com possíveis ameaças, busco o sinal de "proibido fotografar"; como não encontro, pergunto a um dos vendedores do aparelho ultramoderno]

- Claro que pode, vá em frente.

[emoção diante de algumas imagens de passeatas, com negros recebendo jatos d'água com que o racismo pretendia "lavar as suas peles", mas com os quais só lavou ainda mais as suas almas, fortalecendo sua luta não-violenta]

[converso comigo mesmo]

[lembro da hora e prossigo, mas logo adiante vejo uma livraria que - deduzo - estará vendendo todos os livros de Rei]

- Você tem algum livro de Martin Luther King?
- Hummm. Seção de Afro-americanos, no finalzinho ali...

[livros de ficção de gosto duvidoso, livros eróticos, livros de receitas afro-americanas, livros de interpretação pragmática da bíblia]

[nada de Rei]

- Você poderia, por gentileza, buscar no sistema, pois não encontrei nada?
- Hummm. Deixa eu ver. [ela passa pelos mesmos livros que eu...] É, não tem.
- Então fica de sugestão venderem os livros dele, pois vocês estão do lado de um memorial; é uma oportunidade e tanto.

[penso em como a Disney sabe aproveitar oportunidades, vendendo todo tipo de artigo sobre algum personagem, numa loja especializada em que culmina a saída do brinquedo temático do mesmo personagem]

[prossigo, mas páro para comprar chocolate amargo, em frente a um vendedor rastafari balançando a cabeça como num show de heavy metal]

- Gostei da dança.
- :-)
- Vou levar este chocolate amargo.
- Mais alguma coisa?
- Você conhece alguma livraria além daquela ali?
- Só aquela ali. Por quê?
- Porque lá há todos os livros do Dan Brown, mas nenhum do Martin Luther King, que tem um memorial do lado da livraria. Gostaria de fazer uma sugestão de que não perdessem esta oportunidade.
- Não seja por isso. Aqui está o papel próprio para você fazer esta boa sugestão.
- :-) Ótimo.
- Basta preencher aqui.
- "Parabéns pelo belo memorial Martin Luther King. Gostaria de sugerir que aproveitassem a oportunidade para pôr seus livros à venda na loja adjacente, de modo que as sementes de paz e união regadas por ele pudessem continuar crescendo em corações em busca de suas palavras férteis. Agradecido."

2007-08-21

Jardineiro Fiel

Encinitas, CA,
18 de Agosto de 2007


(foto = mão na mudra do ninho, em frente à praia do Swami, em Encinitas)


[dia de trabalho no templo da SRF de Encinitas; ofereço-me como voluntário de 9 a meio-dia, apesar de estar em retiro, pois já sobra energia]

[Limpeza, Consertos, Cozinha ou Jardim - os líderes de cada grupo apresentam as opções - dirijo-me ao chefe do Jardim, que tinha o seu nome numa etiqueta presa à camisa]

- Bom dia, Keith.
- Bom dia, qual o seu nome?
- Carlos. Onde pego uma etiqueta?
- Logo ali, como aquele homem de camisa havaiana.
- Ok [etiqueto-me; volto e Keith pergunta, junto a mais um homem e duas mulheres, todos ofertados ao Jardim]
- De onde você é?
- Brasil, Rio de Janeiro.
- Longe de casa?
- Sinto-me em casa... :-)
- Então vamos dividir: vocês duas podem catar as folhas velhas e flores murchas desses canteiros, e varrer essas folhas. [elas mostram que entendem]
- De modo que tudo pareça vivo.
- Isso. Você [Keith aponta o outro homem] pode ficar com esse outro canteiro.
- Ok.
- Então você guardou para mim as ervas daninhas e a capina pesada?
- Exatamente.
- Sinto-me honrado.
- Você pode passar essas folhas e galhos destes 3 latões para esse outro latão ali, cinza e bem maior, de modo que a prefeitura venha recolher. Mas antes você tem que partir tudo em partes menores. Se terminar a tempo, passo mais trabalho.
- Ok. [mas penso: jogar fora tudo isso que pode servir de adubo precioso?]

[lembro-me de Ernst Gösh, caro professor de Jardinagem Florestal, com seu mantra: "Erva daninha? Erva daninha é ouro!"]

[já tendo começado o trabalho, mas com estas idéias receosas, e sem abertura da parte de Keith para expô-las, chega-me John, chamando minha atenção]

- Você tem de fazer isso lá atrás?
- Perdão? Como assim?
- Não podemos pôr lixo verde neste latão cinza. A prefeitura só recolhe orgânico de residências e somos um templo. Mas, é claro, fazemos isso sempre - mas escondidos ali atrás, para ninguém ver.
- Hummm. Tenho uma alternativa.
- [sem dar muita atenção] Você tem de fazer ali atrás.
- Vamos conversar com Keith.

[o homem que leu parte de meus pensamentos e eu vamos a Keith]

- Keith, estava eu começando o trabalho e John veio e me disse...
- Pois é, temos de fazer escondido.
- ? [Keith ignorava totalmente o receio de John]
- Mas eu tenho uma alternativa, pois também não gostaria de fazer isso escondido.
- ?
- ?
- No Brasil, usamos este material orgânico para fazer ninhos ao redor das árvores, de modo que: 1. ficam protegidas; 2. minimizamos a necessidade de água, pois o interior do ninho permanece úmido e 3. usamos os recursos naturais, em vez de jogá-los no lixo gastando a energia dos coletores...
- Interessante.
- Portanto, posso cortar em partes menores e... Vocês não tem uma plantação logo ali em cima?
- Sim. Então você pode ir trabalhando, que eu vou pegar o caminhão!
-:-)

2007-08-19

Woman Trinity II

Encinitas, LA
19th August 2007



PARVATI

to Konrad Baron

Parvati has got Shiva's pungent eyes
Around Her heart, but, restlessly, sees not.
Revolving tears, Shiva long night has brought...
Valiant, Desire's God tried Him to rise:
All burnt within a blink of Shiva's thought!
'Til Parvati comes meditate aside,
I wait with Shiva's eyes the morning sought.

2007-08-17

Woman Trinity I


Encinitas, LA
17th August 2007

LAKSHMI

to Aniele Xavier

Lies on sea Great Lord Vishnu with His Spouse,
Above the ruffling water-grounds and thoughts;
Key to His heart She knows well, thus She brought
Softness enough as She enters this House:
He lies on, Keeping all our doors and knots,
Meanwhile She massages Lord's feet -- Applause!
I see that in Love the Keeper's the Caught.

2007-08-11

Gopala

Los Angeles, Hollywood SRF Temple,
9 de agosto de 2007.



[entrando na seção da escola dominical da SRF, uma menina de uns 11 anos me atende]

- Oi.
- Oi, que belas marionetes você tem aí!
- :-) A minha preferida é a de Krishna.
- É realmente bonita.
- Aqui temos também os companheiros dele: Gopala...
- Que legal.
- Eu sei uma história de Gopala.
- Eu não conheço e adoraria ouvir. Você poderia me contar?
- Claro.

[ela pega uma "cola", para se esquecer algum treco, e, como se estivesse numa verdadeira feira de ciências (espirituais), me conta a bela história de Gopala, que tentarei resumir a seguir]

- Gopala era um menino do campo, bem pobre e já estava na idade de ir para a escola. Mas a mãe dele, viúva e fiel devota de Krishna, não tinha dinheiro para pagar ninguém para levá-lo através da floresta, nem para contratar alguém que pudesse trabalhar em seu lugar enquanto levaria ela mesmo o seu querido filho. Então disse a Gopala:
- Meu filho, você terá de ir para a escola sozinho, pois não posso te levar, nem pagar alguém para levá-lo. Mas meu amor sempre estará contigo - e jamais deixará de te acompanhar.
- Mas, mãe, eu tenho medo da floresta.
- Não tenha medo de nada, meu filho.

[Gopala, então, tomou coragem e foi pela floresta. Quando, porém, ouviu o primeiro farfalhar de folhas seguido de um grunhido estranho, voltou correndo para casa.]

- Mãe! Não posso ir sozinho, há monstros na floresta.
- Não há, meu querido. Não tenha medo.
- Mas eu tenho.
- Já sei, então. Por que você não vai com seu irmão?
- Mas não tenho irmão...
- Claro que tem!
- Quem?
- Govinda, o irmão de todos...
- Govinda é meu irmão?
- Claro, basta chamá-lo e ele te levará pela floresta, sem nenhum medo, até a escola.
- :-)

[e assim foi; Gopala invocou Govinda, que veio imediatamente, brilhante como um príncipe, levá-lo para a escola, assim como de volta à casa, não só naquele dia, mas em todos os dias... Eles brincavam durante o caminho inteiro, Gopala nunca sentia medo e estava totalmente satisfeito, até que um dia seu professor convidou a todos os alunos a uma festa e Gopala precisava levar um presente; no entanto, sua mãe não podia comprar nada e ele, um pouco envergonhado, pediu a Govinda]

- Minha mãe é muito pobre. Você teria alguma coisa, Govinda, para eu presentear meu professor?
- Também não tenho nada, mas posso te dar alguma coisa.

[Govinda deu-lhe uma cumbuca com iogurte; Gopala não ficou de todo satisfeito, pois ao chegar na festa e ver todos os maravilhosos presentes dados ao seu professor, ficou ainda mais envergonhado de dar o pote com iogurte do que havia ficado ao pedi-lo a Govinda]

- Gopala, você trouxe um presente?

[disse o professor, que era muito gentil]

- Sim, sei que é muito pouco...
- Não é verdade, o tamanho do presente é o tamanho da bondade por trás do presente...

[ao passar o pouco iogurte da cumbuca para um pote maior, o professor ficou abismado ao ver que o pote inteiro instantaneamente se encheu de iogurte; então serviu a iguaria e todos os convidados exclamavam e perguntavam]

- Que iogurte maravilhoso! De onde vem esse sabor?!
- Perguntem a Gopala. Foi presente dele. Onde você conseguiu esse iogurte?
- Foi meu irmão que deu.

[o professor sabia que Gopala não tinha irmã - e perguntou]

- Quem é o teu irmão, Gopala?
- Govinda, meu querido irmão que todos os dias me traz para a escola e me leva de volta à casa.
- Você pode me mostrar Govinda depois da festa então?
- Claro.

[a comilança terminou e Gopala levou seu professor para a entrada da floresta, de onde chamou]

- Govinda? Govinda?? Govinda???

[e nada de Govinda vir]

- Govinda, onde está você? Meu professor assim achará que eu sou um mentiroso...

[e nada; muito tempo se passou com esse gritos, e Govinda não aparecia; então o professor disse]

- É verdade, Gopala, você é mesmo um mentiroso. Sei que você não tem nenhum irmão.

[antes que Gopala pudesse retrucar, os dois ouviram uma voz dizer de dentre da folhagem]

- Gopala, eu venho a ti todos os dias, porque sua mãe e você acreditam em mim.

2007-08-10

9 Professores de Hindi

Los Angeles, 8 de agosto de 2007



[almoçando comida indiana ao lado de um casal de indianos]
- Vocês falam Hindi?
- Não, apenas telugu.
- :-(

[mais tarde, andando pela livraria da Convocação da SRF, vejo uma mulher com uma versão da "Autobiografia de um Iogue" em Hindi! Volto-me para ela e pergunto]

- Você então lê em Hindi?
- Ah, sim, mas este livro é para um amiga.
- Muito prazer, sou Carlos, do Brasil.
- Sou Munisha, da Índia.
- Eu estava justamente procurando uma professora de Hindi.
- Eu sou professora de Hindi.
- Estou estudando sânscrito e adoraria aprender, também, hindi, que, se minha ignorância sabe alguma coisa, parece que é o sânscrito facilitado...
- Isso. Você já almoçou?
- Sim, mas posso te acompanhar.
- Claro. Posso te mostrar alguma coisa em Hindi. Adoro escrever poesia.
- Eu também, mas em português brasileiro.

[Munisha compra comida, eu a ajuda a carregar as coisas até uma parte ao ar livre do hotel, em que encontramos, em meio a muita gente, uma mesa com apenas uma mulher sentada]

- Podemos nos sentar.
- Claro, de onde são.
- Do Brasil.
- E da Índia.
- Também sou da Índia.
- Que língua você fala? [pergunta Munisha]
- Hindi. Sou professora.
- E eu estava procurando um professor de Hindi, rezei e rezei e de repente me vêm duas!
- :-)
- Como você se chama? [pergunta a segunda professora]
- Carlos, mas também tenho um nome Hindi: bharati. [escrevo para ela com o alfabeto devanagari]
- Muito bem! Então você sabe ler! Só este "i" é que deveria ser longo... Bharatî...
- Agradeço. Minha primeira lição.
- Onde você aprendeu? [pergunta Munisha]
- Alguns amigos e eu montamos um grupo de estudos, com um discípulo de Swami Dayananada - mas o método estava um pouco cansativo e só eu fazia o dever de casa. Para falar a verdade, os outros alunos estavam realmente enfastiados de ter de repetir 100 vezes cada letra, e começaram a ficar revoltados comigo, pois não entendiam como eu poderia gostar de fazer aquilo...! Então eu lhes expliquei que eu não me importava muito com o dever de casa para gostar ou desgostar de sânscrito, pois eu tinha encontrado o método perfeito para aprender a língua dos deuses: os shîva sûtras de patânjali. Então expliquei o método aos meus colegas, que ficaram ainda mais revoltados: "mas por que você não disse antes que tinha encontrado o método perfeito?! A partir de agora, então, nos recusamos a aprender de outra maneira. Assim, fizemos um motim, e o professor "fugiu" :-) para a Índia, onde está estudando a gramática de Pânini, entre outras coisas. Teve de admitir que o método de Shîva era superior...
- :-) O que você quer aprender, então?
- O que você quiser me ensinar.

[ela me dá dicas de livros e filmes, enquanto a segunda professora se retira. Munsha continua:]

- Posso te escrever um poema?
- Por gentileza.

[ela escreve em sua caligrafia, de modo que tenho muito trabalho para decifrar cada som, enquanto ela ri do meu lado; segue a tradução]

- "Quando vim aos pés do guru,
encontrei toda a felicidade.
Para ir daqui a qualquer outro lugar...
Esta possibilidade nem sequer existe!
Quando tenho o oceano,
então por que eu deveria procurar um rio?
Quando encontrei o querido guru,
encontrei todos os tesouros".

- Belo. Nem tenho como agradecer. Posso tentar retribuir depois traduzindo para ti algum poema que escrevi.

[ficamos amigos e ela se ofereceu para traduzir textos da União da Árvore para o hindi - além de amiga e professora de hindi, ganho uma tradutora para a ONG!]

[no mesmo dia, após uma palestra, enquanto bebo água, uma senhora idosa com sua filha vêm me perguntar algo - elas têm trajes e sotaques inconfundíveis... Mais duas indianas]

- Como foi a palestra?
- Foi ótima.
- Que pena que perdemos.
- Posso resumir para vocês

[então conversamos por quase uma hora, ao que descubro que falam hindi! Além disso, convidam-me para me hospedar na casa deles quando eu visitar a Índia]

[de noite, sentando-me para a meditação em grupo, quem vejo ao meu lado direito?... Um casal que fala... Hindi! Meus sétimo e oitavo professores. Mais dois contatos indianos e fornecedores de aulas gratuitas. A meditação vai começar. Luzes se apagam. Ao meu lado esquerdo, sinto um pé impaciente bater-se e rebater no chão, durante quase toda a meditação. Quando abro os olhos finalmente, vejo um sorriso voltado para mim, cor de oliva, cabelos escuros lisos, bigode inconfundível. Nem precisava perguntar de onde era o qual língua falava. Tive que dispensar meu nono professor, pensando que tenho de ter cuidado da próxima vez que rezar em busca de tutores]

Voluntária

Los Angeles, SRF Lake Shrine Temple,
8 de agosto de 2007



[eu passando por uma linda imagem de Krishna entre as árvores, sobre um riacho que alimenta o Lago Central; ouço uma voz voltada a mim]

- Você quer que eu tire uma foto sua com Krishna?
- :-) Como eu poderia recusar?
- [clique]
- Justamente este verso embaixo de Krishna foi transformado numa bela canção em Português.
- Como é?
- "Para quem vê tudo em Mim, vendo-Me também em tudo, Eu nunca fico perdido, nem se perde ele de Mim".
- Bela. Como o sorriso dele... Perfeito.
- Você quer que eu tire uma sua com ele?
- :-) Eu teria medo de queimar a foto.

[ela então se volta a Krishna, orando e saudando-o]

[aproveito e tiro a foto de Krishna com ela, que estava de costas para mim]

- Veja, tirei assim mesmo.
- Pelo menos de costas o risco de queimar o filme é menor.
- Todos os lados são igualmente belos a Ele, que é tudo em toda parte.
- :-)